É assim que se brinca…
Cada jogo tem suas regras.
Mas cada grupo de crianças as interpreta,
Cria e recria a seu modo.
Vou explicar as regras do jogo.
Cabe a você traduzi-las.
Adriana Friedmann (1996)
Você já parou para pensar o quanto a ludicidade é importante no processo de aprendizagem, ou, no seu cotidiano docente, você brinca com as crianças porque a brincadeira está no planejamento do dia?
Já se interrogou alguma vez sobre isso? Compartilho com você minha experiência em relação a brincadeira.
Durante muito tempo eu brinquei porque a brincadeira precisava estar no meu planejamento para que eu pudesse sempre na segunda-feira apresentá-lo para a coordenadora, a brincadeira era uma regra no planejamento que eu precisava cumprir.
Eu ouvia as pessoas falando da importância do brincar, mas, eu só me preocupava com o alfabetizar. Confesso humildemente que durante muito tempo ela não fazia nenhum sentido para mim. Até que um dia um aluno me perguntou:
– “Tia, por que você não gosta de brincar?”
Oi? Como assim eu não gosto de brincar? Toda semana eu brinco.
Prezo por essa atividade pelo menos uma vez na semana. Fui tomada por uma surpresa, uma angústia que não cabiam em mim. E comecei a me interrogar, olho no olho, porque eu não gostava de brincar?
E sabe o que eu descobri? Não se tratava exatamente de não gostar, mas, de não compreender a brincadeira como uma atividade lúdica e motivadora dentro da sala de aula, e que para fazer a mágica acontecer eu precisaria trocar de roupa, tirar o jaleco de professora e vestir o traje do mágico.
E quando me troquei, acredite, a mágica aconteceu. Uma explosão de ideias, de cores e de criações se deu dentro de mim. E eu aprendi a brincar de verdade.
Aprendi na brincadeira como a aprendizagem se constrói, quais tipos de inteligência vão se apresentando, quais concepções teóricas eu realmente conheço e como me aproprio delas.
Enxerguei como as crianças se organizam para as atividades coletivas, quais são as regras que elas criam para viver em sociedade, como constroem sentimentos como a empatia, a resiliência e o amor ao próximo.
Escutei, quais eram as dificuldades do momento, o que era desafiador, o que era fácil demais e o que estava sendo desmotivador.
Observei que letras e números precisam da magia do mágico para fazer sentido para as crianças e que, sem essa magia eles podem desaparecer por não terem encontrado um lugar significativo na memória.
Descobri que operações matemáticas necessitam de um toque de mistério que instigue a curiosidade e o desejo da descoberta de como os números se transformam em outros, como eles conseguem aumentar e diminuir, e outros ainda que se multiplicam ou se dividem num piscar de olhos.
Pouco falei, mas, não deixei de intervir, de incentivar e de utilizar a Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky. Nessa brincadeira mágica de aprender letras e números eu percebi onde estavam e o que precisavam construir para chegar ainda mais longe, e o mais importante… Descobri como fazer, e o meu fazer precisava ser diferenciado.
Meus truques de magia poderiam ser rápidos para uns e mais lentos para outros, para que cada expectador pudesse compreender em seu estilo próprio de aprendizagem “aprender a ser”, “aprender a conhecer” e “aprender a fazer”.
E às vezes era necessário fazer de novo, porque a mágica não tinha sido bem compreendida nem assimilada. E então eu recorria a um grande e velho amigo chamado Piaget, quem em uma de nossas inúmeras conversas literárias me disse certa vez que sem assimilação a magia não acontece, novos elementos não são acrescentados à mágica já existente.
E ressaltou expressivamente… Permita que as crianças se equilibrem feito os pratos do malabarista em cima de uma vara após descobrirem o segredo da mágica, porque a partir daí, elas pedirão “mais um… Mais um” se colocando às novas possibilidades de aprendizagem e ampliação do conhecimento.
E eu fui aprendendo que a brincadeira é mais importante que a tarefa árdua de alfabetizar, que eu poderia trabalhar menos e brincar mais, e no final a conta iria fechar.
Me despi da docência e me vesti para a mediação, desci e sentei no chão, e ensinei que tem coisas que eu não sei, e que isso não é feio nem vergonhoso. Quando a gente não sabe a gente pergunta, pesquisa, busca, aprende e compartilha.
E nessa ciranda nunca me esqueço de uma conversa que tive com Freud. Ele disse-me: Não se esqueça… “O outro se constrói a partir de você”.
E assim, eu e você que me lê nesse momento, não podemos nos esquecer de que brincar não é brincadeira, é coisa séria! A gente brinca para crescer, para aprender a dividir, para viver em sociedade, para respeitar o outro e construir nossos espaços e nossas mágicas! Brincamos para fazer a diferença!
E aí? Você já se interrogou por que você brinca na escola?
Denise Matias– Pedagoga e Psicóloga
(Nov./20 – Cel. Fabriciano/MG)
Ainda não sou professora, mas tenho o desejo de ingressar nesse mundo fantástico, e lendo esse artigo me fez querer ainda mais . Não sabia que a brincadeira era tão importante para a alfabetização.
Olá Delzamar, parabéns por investir na sua formação para ingressar neste mundo fantástico da criança. De fato, aprender com leveza ao brincar é essencial para o desenvolvimento de crianças alegres e adultos saudáveis mentalmente.
Abraço fraterno,
Profa. Marilene Nunes
coord. do curso de Pedagogia